Pedro Jacobi: “desastres anunciados não são fatalidades”

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

 

Os “desastres anunciados”, como as últimas enchentes que ocorreram em grandes cidades como São Paulo e Belo Horizonte, não podem ser vistos como meras fatalidades. Isso porque, na maioria dos casos, podem ser previstos e evitados.

São principalmente consequência de décadas de descaso do poder público em relação ao planejamento urbano e às políticas setoriais relacionadas. Trata-se também de um problema relacionado ao fato de as cidades brasileiras apresentarem a marca da desigualdade inclusive na distribuição social dos riscos inerentes à precariedade urbana.

Além disso, os desastres também revelam o despreparo das autoridades para alertar a população mais vulnerável e removê-la das áreas de risco de alagamento e deslizamento de encostas, por exemplo, garantindo abrigo em situações de calamidade iminente.

As autoridades públicas geralmente justificam tais tragédias como consequências de eventos climáticos incomuns, como se estivessem fora dos padrões já previstos pelos serviços de meteorologia e por pesquisadores que estudam, há décadas, os efeitos do aquecimento global nas cidades.

Cabe registrar, ainda, a incapacidade das políticas urbanas de gerir o uso do solo e a setorialidade na aplicação de políticas ambientais com repercussão no planejamento dos territórios. Há diversos instrumentos que permitiriam identificar áreas vulneráveis, subsidiando estratégias para prevenir e mitigar desastres e, além disso, promover medidas de adaptação diante de eventos extremos em áreas costeiras e bacias hidrográficas.

Pedro Roberto Jacobi é doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor titular do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP e coordenador do projeto temático MacroAmb, com apoio da FAPESP. Currículo completo em https://bit.ly/2SHAEIJ

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DICA DE LEITURA

Recomendamos a leitura do artigo Governança ambiental urbana em face das mudanças climáticaspublicado em 2016 na Revista USP por Pedro Jacobi e Samia Nascimento Sulaiman. Bastante atual, o trabalho defende que a democratização do conhecimento tecnocientífico não pode estar desvinculado da democratização dos processos decisórios. “É necessário criar e multiplicar espaços de diálogo e integração que potencializem processos de governança para a gestão integrada das políticas públicas. O desenvolvimento da capacidade adaptativa frente aos desastres naturais está imerso nesse cenário”, escrevem os autores. O artigo está disponível em https://bit.ly/3bFpfl5

 

 

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