O desafio dos resíduos eletrônicos na Macrometrópole Paulista
Por Kauê Lopes dos Santos*
A expansão da produção de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE) nos países industrializados do Sul Global segue a tendência planetária – que alcançou uma produção de 44,7 milhões de toneladas de REEE em 2016 – e pode ser entendida como um produto da consolidação da sociedade de consumo.
Os debates em torno da gestão desse tipo de resíduo (também chamada de gestão de e-waste) – que pode ser altamente prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente se não for processado de forma adequada – geralmente partem do consenso da necessidade de implementação de um sistema de logística reversa. No entanto, essa implementação deve ser feita dentro de condições normativas e técnicas específicas, especialmente em áreas urbanas onde ocorre a maior parte do descarte.
Nesse contexto, a Macrometrópole Paulista é o centro econômico mais dinâmico do Brasil e um dos mercados consumidores mais importantes do país, com uma população de mais de 30 milhões de habitantes. Atualmente, cerca de 28 empresas formais são responsáveis pela reciclagem de parte do REEE produzido na região.
Essas empresas operam em diferentes níveis de capitalização e organização e geralmente só têm a tecnologia para executar os estágios inicial e intermediário do processo de reciclagem dos resíduos em questão. Essa limitação tecnológica é também uma realidade em todo o território brasileiro, de modo que a maior parte do REEE parcialmente reciclado é vendida para outras indústrias que podem usá-lo como matéria-prima, ou para recicladores fora do país que possuem a mais avançada tecnologia e que podem fechar o ciclo do sistema de logística reversa, promovendo a economia circular.
Essa limitação tecnológica está associada ao alto preço de máquinas pirometalúrgicas, hidrometalúrgicas e eletro-metalúrgicas. E o custo não é justificado por parte dos recicladores, principalmente porque eles ainda não têm um fluxo regular de matéria-prima, dada a ineficiência do sistema de coleta de REEE na Macrometrópole Paulista e em todo o país.
Nos próximos anos, ficará claro se a implementação do sistema de logística reversa – que ocorrerá a partir de 2020 – tornará a coleta e descarte de REEE mais eficiente para os recicladores formais. Como a regularidade do fluxo reduz a capacidade ociosa dessas empresas, é provável que aumente os investimentos em máquinas que operam os níveis finais de processamento, atualmente feito nos países do Norte Global.
*Pesquisador visitante no Latin America and Caribbean Centre da London School of Economics and Political Science e integrante do MacroAmb.