O desafio dos resíduos eletrônicos na Macrometrópole Paulista

Resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos são prejudiciais ao ambiente e à saúde humana (foto: Wikicommons)

 

Por Kauê Lopes dos Santos*

A expansão da produção de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE) nos países industrializados do Sul Global segue a tendência planetária – que alcançou uma produção de 44,7 milhões de toneladas de REEE em 2016 – e pode ser entendida como um produto da consolidação da sociedade de consumo.

Os debates em torno da gestão desse tipo de resíduo (também chamada de gestão de e-waste) – que pode ser altamente prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente se não for processado de forma adequada – geralmente partem do consenso da necessidade de implementação de um sistema de logística reversa. No entanto, essa implementação deve ser feita dentro de condições normativas e técnicas específicas, especialmente em áreas urbanas onde ocorre a maior parte do descarte.

Nesse contexto, a Macrometrópole Paulista é o centro econômico mais dinâmico do Brasil e um dos mercados consumidores mais importantes do país, com uma população de mais de 30 milhões de habitantes. Atualmente, cerca de 28 empresas formais são responsáveis ​​pela reciclagem de parte do REEE produzido na região.

Essas empresas operam em diferentes níveis de capitalização e organização e geralmente só têm a tecnologia para executar os estágios inicial e intermediário do processo de reciclagem dos resíduos em questão. Essa limitação tecnológica é também uma realidade em todo o território brasileiro, de modo que a maior parte do REEE parcialmente reciclado é vendida para outras indústrias que podem usá-lo como matéria-prima, ou para recicladores fora do país que possuem a mais avançada tecnologia e que podem fechar o ciclo do sistema de logística reversa, promovendo a economia circular.

Essa limitação tecnológica está associada ao alto preço de máquinas pirometalúrgicas, hidrometalúrgicas e eletro-metalúrgicas. E o custo não é justificado por parte dos recicladores, principalmente porque eles ainda não têm um fluxo regular de matéria-prima, dada a ineficiência do sistema de coleta de REEE na Macrometrópole Paulista e em todo o país.

Nos próximos anos, ficará claro se a implementação do sistema de logística reversa – que ocorrerá a partir de 2020 – tornará a coleta e descarte de REEE mais eficiente para os recicladores formais. Como a regularidade do fluxo reduz a capacidade ociosa dessas empresas, é provável que aumente os investimentos em máquinas que operam os níveis finais de processamento, atualmente feito nos países do Norte Global.

*Pesquisador visitante no Latin America and Caribbean Centre da London School of Economics and Political Science e integrante do MacroAmb.

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