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A Macrometrópole Paulista, seja por sua dimensão territorial seja pela magnitude de fluxos que representa, encerra uma complexidade de problemas socioambientais que tendem a se acentuar em um contexto de variabilidade climática. Um esforço de análise interdisciplinar sobre essa problemática poderá gerar conhecimento relevante, possibilitando um avanço significativo no plano conceitual e metodológico em torno de questões ainda pouco exploradas, notadamente o impacto das pressões antrópicas nos ecossistemas e as possíveis respostas em termos de governança, em um contexto de intensa aglomeração urbana. Megacidades como São Paulo, se defrontam com significativos desafios e condicionalidades no plano socioambiental, associados aos padrões de desenvolvimento e transformação do espaço, que têm sido agravadores do clima urbano pelo aumento da temperatura e intensificação de eventos climáticos extremos. Nesse contexto, uma das principais preocupações é com gestão das águas, no sentido de escassez física, de qualidade e quantidade, e institucional (tanto no tocante a oferta do recurso quando na demanda), somada às necessidades de proteção e recuperação dos ecossistemas e de ações coordenadas que extrapolam as competências setoriais específicas.

A construção de um novo modelo, baseado em uma mudança paradigmática demanda o enfrentamento das complexidades inerentes às sociedades das megacidades contemporâneas. Uma reflexão da academia, centrada no enfoque multissetorial, interdisciplinar e multi-institucional é necessária.

Indubitavelmente, os conflitos pelo uso da água são os mais latentes, em virtude da necessidade de gerir a água e garantir o desenvolvimento das regiões metropolitanas conurbadas. Demandam respostas para o conjunto de problemas socioeconômicos, ecossistêmicos e sociopolíticos que compõem uma agenda de enfrentamento dos efeitos das possíveis mudanças no clima (em escala topo e meso-climática), particularmente no que diz respeito à frequência e intensidade dos eventos extremos e seus impactos sobre a população residente nas áreas urbanas e em suas periferias em processo de conurbação ou de refuncionalização rural.

É cada vez mais intensa a alteração de uso do solo, com a substituição de indústrias de manufaturas por empresas de serviços e loteamentos. Como consequência desse processo acontece a valorização dos terrenos, a verticalização da cidade e a expulsão das camadas de população menos favorecidas economicamente para regiões periurbanas. A alternativa que frequentemente resta para estes moradores é a ocupação de áreas de mananciais e de encostas, incrementando a degradação dos escassos recursos hídricos e acarretando situações de risco para a vida. A crescente impermeabilização provoca diminuição da absorção da água pelo solo, aumenta o escoamento superficial com carregamento de resíduos e sedimentos que acabam nos rios e reservatórios da RMSP (TOMINAGA et al., 2009).

A perversa combinação entre as possíveis consequências das mudanças do clima – como aumento da intensidade das chuvas em períodos curtos, e períodos longos de estiagem – em maior frequência e intensidade, em associação com a pobreza e/ou maior vulnerabilidade da população, observada globalmente, também se manifesta em nível nacional e regional, nas cidades que compõem a Macrometrópole Paulista. Embora a região tenha maior capacidade de adaptação econômica e social, pode ser fortemente impactada pelas variações observadas e as projeções futuras de extremos climáticos, especialmente nas áreas mais pobres das cidades. Cabe destaque à perspectiva de consequências sistêmicas, ampliadas, com perspectivas de grandes desastres, prejuízos materiais e epidemias. Todavia, determinadas crises não são anunciadas por meio de lógicas lineares de análise, sendo importante aprimorar a sensibilidade para evidenciar sinais de alerta que são aparentemente silenciosos, não tão evidentes.