Antropização da região costeira

Desde sempre as maiores populações humanas se estabeleceram na região costeira ou próximo desta. Isso faz com que essa região de transição entre o ambiente marinho e o terrestre seja uma das mais afetadas pelo homem. 

Construções como portos, marinas e espigões e as modificações promovidas por essas construções alteram as condições físicas e bióticas às quais os ecossistemas costeiros estão sujeitos, além de aumentar a disponibilidade de substrato para organismos incrustantes. Com isso é muito comum a alteração da estrutura trófica de comunidades bentônicas e nectônicas nessas regiões, frequentemente com a introdução de espécies exóticas que podem causar grandes prejuízos ecológicos e econômicos.

​Para entender e propor ações para mitigar esses impactos nós trabalhamos com organismos incrustantes e nectônicos como modelos para testar como podemos melhorar nossa relação de uso e conservação da região costeira.

História de vida de organismos marinhos

Organismos marinhos apresentam grande plasticidade na forma como investem na produção da prole. Essa plasticidade está sujeita a seleção natural e é o resultado da interação entre o genótipo e as condições ambientais às quais os organismos estão sujeitos.

Para compreender os mecanismos pelos quais a plasticidade fenotípica se manifesta e a contribuição de caracteres plásticos para o processo evolutivo, nós sujeitamos clones a diferentes condições ambientais e quantificamos a importância dessas condições, sejam elas naturais ou antrópicas, para a determinação do fenótipo e da aptidão de organismos sésseis como ascídias e briozoários.


Estrutura de comunidades marinhas

O que faz com que algumas comunidades suportem uma grande diversidade enquanto outras são dominadas por uma ou poucas espécies?

Qual a importância de processos determinísticos e estocásticos para a estrutura e sucessão das comunidades?

Essas são algumas das perguntas que tentamos compreender através de experimentação em campo, usando substrato artificial. Comunidades incrustantes são excelentes modelos para testar teorias ecológicas, pois são facilmente manipuladas e se desenvolvem em curto intervalo de tempo.

Diversidade morfológica e funcional

Parâmetros ecológicos como riqueza, abundância e diversidade são úteis na descrição de comunidades, porém análises que abordem a diversidade morfológica e funcional, e as variações fenotípicas dos organismos vão além desses parâmetros, sendo necessárias para fins comparativos e estratégias de manejo e conservação. Neste contexto, a diversidade morfológica chama a atenção, pois muitas vezes está diretamente relacionada às diferentes funções dos organismos (ou diferentes funções dos estágios de vida de um mesmo organismo) em seus ambientes. Sendo assim, estudos focados nos chamados “grupos funcionais” podem ser até mais importantes do que os parâmetros tradicionalmente utilizados para as descrições das comunidades e ecossistemas, por estarem diretamente relacionados à sua manutenção, resistência e resiliência.

O principal objetivo desta linha é estudar as relações entre a diversidade morfológica e funcional dos organismos em um contexto ecológico e evolutivo, identificando e avaliando “espécies-chave” e compreendendo seus papeis nos sistemas naturais. Sistemas com maior redundância funcional tendem a ter maior resistência e resiliência.


Ciência cidadã 

A ciência aparece muitas vezes desconectada do cotidiano das pessoas, não havendo muito conhecimento por parte da população dos processos envolvidos para o desenvolvimento de pesquisas científicas e para a coleta de dados sobre a biodiversidade. Neste contexto se insere a “Ciência Cidadã”, um processo que envolve o público na coleta de informações científicas em ampla escala espacial e/ou temporal, ao mesmo tempo em que contribui para a formação científica dos cidadãos. O grupo de pesquisa em Ciência Cidadã da UFABC tem como objetivo o planejamento, aplicação e validação de protocolos de ciência cidadã voltados para o estudo da biodiversidade.  O objetivo dos protocolos é promover a alfabetização científica de diferentes públicos e, ao mesmo tempo, coletar dados sobre a biodiversidade brasileira de maneira participativa. O grupo segue os princípios de boas práticas em ciência cidadã propostos pela ECSA (European Citizen Science Association), quais sejam: 1) projetos de ciência cidadã envolvem ativamente os cidadãos nas atividades científicas, o que gera novo conhecimento e compreensão. Os cidadãos podem atuar como contribuidores, colaboradores ou como líderes de projetos e assumir um papel significativo no projeto; 2) projetos de ciência cidadã produzem genuínos resultados científicos; 3) tanto os cientistas como os cidadãos cientistas se beneficiam da sua participação nos projetos de ciência cidadã. Os benefícios podem incluir a publicação de resultados da investigação, oportunidades de aprendizagem, prazer pessoal, benefícios sociais, satisfação através da contribuição com evidências científicas para, por exemplo encontrar respostas para questões com relevância local, nacional ou internacional e, desta forma, influenciar políticas nesta área; 4) cientistas cidadãos podem, caso queiram, participar em várias etapas do processo científico; 5) cientistas cidadãos recebem feedback do projeto (p.ex. como os dados recolhidos estão sendo usados); 6) a ciência cidadã é considerada como abordagem de investigação como qualquer outra, com limitações e enviesamentos que devem ser considerados e controlados. Contudo, ao contrário das abordagens científicas tradicionais, a ciência cidadã providencia oportunidades para um maior envolvimento do público e uma democratização da ciência; 7) dados e metadados resultantes de projetos de ciência cidadã são tornados públicos e sempre que possível publicados num formato de acesso livre. A partilha de dados pode acontecer durante ou depois do projeto, a menos que existam motivos de segurança e privacidade que o impeçam; 8) a contribuição dos cidadãos cientistas é reconhecida publicamente nos resultados dos projetos e nas publicações; 9) os programas de ciência cidadã são avaliados pelos seus resultados científicos, qualidade dos dados, experiência para os participantes e abrangência dos impactos sociais e políticos e 10) os responsáveis por projetos de ciência cidadã têm em consideração questões legais e éticas relativas ao copyright, propriedade intelectual, acordos sobre partilha de dados, confidencialidade, atribuição e impacto ambiental de qualquer atividade.